D II

Não podemos ter tudo que temos, já que não queremos tudo que temos.
Não podemos querer tudo, já que o tudo é o que mais queremos.
Mas eu não quero tudo, não quero nada a mais, só quero mais um pouco.
Quero aquele pouco que falta, aquela peça que sinto uma certa errada falta.

Não vou mentir e dizer que tenho tudo o que quero, não vou.
Não vou também mentir a dizer que tudo o que quero tenho, não vou.
Vou dizer sim que tenho o que tenho, e que o que tenho me faz sorrir.
E embora o que tenha não seja pouco, tenho a dizer que um puzzle só é puzzle com todas as suas peças.
E eu tenho muitas peças. Umas que gosto mais, umas que gosto menos. Mas todas elas são peças, todas elas pertencem a um puzzle.

Sentir-me incompleto é sentir-me vazio ? Cheio não é de certeza.

D I

O tempo passa mas é sempre o mesmo tempo;
A vida passa mas é sempre a mesma vida;
A lua muda mas é sempre a mesma lua;
Eu mudo, mas sou sempre o mesmo. E tu ?

Os olhos vêm mas desviam;
A boca cala mas pensa;
Os ouvidos ouvem mas fogem;
O nariz cheira mas renega;

Há coisas que sofrem mudanças, mas que simplesmente não mudam.

dizem.

Dizem uns tantos ser mais normais,
Qaundo normal é não ser diferente.
Dizem que um fato nos torna formais,
Quando formal visa calar o que se sente.

Dizem não gostar de confusões e conflitos,
Quando sem agulhas não existem alfaiates.
Dizem o amor ser o mais belo dos atritos,
Sem medir tamanho irónico disparate!

Julgam ainda que falar tanto incomoda,
Quando na verdade incomodar não é falar.
Não dizem que desesperam com o silêncio,
Pois esse é fantasma que quieto faz calar.

Que sou um pobre coitado uns dizem,
Que sou aquilo e aquilo uns se queixam.
Coitados são vós que só se contradizem,
Que só amam aquilo que não deixam.

cansado.

Começo a ficar um pouco cansado...
Cansado não por sonhar acordado,
Cansado sim por não te ver ao meu lado.
Cansado, por ser e não ser o teu amado.

Oxalá me digam porquê, me digam a razão.
Digam-me tudo que quero e não quero!
O Homem tem que encontrar na solução,
Aquilo que em Ulisses encontrou Homero.

Não fosse a vontade capaz de tudo...
Não fosse, pois de mim parte levaria.
E se fosse o nosso pensar mudo ?
Ai, fosse antes isto uma modesta avaria.

Estou apenas a dar palavras ao cansar,
Não estou a pedir para me ver livre disto.
Com as palavras é possivel dançar!
E embora não se toquem, fazem tocar isto.

amor contratual.

Amor contratual rima com sensual,
Assim como com a palavra especial.
Um mero vocábulo que se tornou casual,
Já que este amor (?) nada é acidental.

Antigamente faziam reis uso dele.
Hoje, vêm donzelas dele tirar pão.
Pobres coitadas deitam lágrimas por ele,
Só para continuar com a faca na mão!

A verdade é que choro e rio por dentro
Quando estes especiais sentimentos vejo.
Rio pela hiprocrosia e intresse virem ao centro,
Choro por não ver nesses vis, o seu vivo desejo.

E como de contratual amor lhe chamam,
Eu facilito o esquema: dou-vos o conjugal.
Declaravos homem e mulher: Tanto se amam!
Engraçado este beijo, que simboliza o matrimonial.

Não preguem por mais nada,
Não prezem mais molhados aterros.
Este gente mete pena por ser amada,
Mete nojo por ter medo de remediar erros!

quatro

Nem todo o gato mata ratos,
Nem todo o rato come queijos.
Homem: tudo isto são pratos!
Prato com facas, prato com beijos.

Faca na mão, o pão já se prepara.
Fosse a facada suave sorte...
Nem que a mulher deixasse a vara,
O Homem não desolharia seu decote.

Não culpes quem faz disto vida.
(Não faças isso como eu faço...)
É melhor ter uma mente durida,
Que um toque sem qualquer abraço.

A filosofia do Homem não varia...
Ele sim, é que a varia ela própria!
Haverá bem que cure esta avaria ?
Saúde! O rato e o gato dividem a fatia.